Em abril, na reunião entre os núcleos do projeto Escolas Transformadoras, inserida no Encontro dos projetos Sinergias ED e Escolas Transformadoras, realizado em Coimbra, tivemos contacto com a Cartografia Social.
Neste primeiro momento, a cartografia social foi utilizada como um instrumento que promoveu a reflexão sobre o trabalho que cada Instituição de Ensino Superior (IES) desenvolveu na sua comunidade, sendo que esta atividade foi dinamizada pela equipa da Fundação Gonçalo da Silveira com a colaboração da Monique Leivas Vargas da Universidade Politécnica de Valência. Neste processo, e como “atores sociais auscultados”, reconhecemos as potencialidades da Cartografia Social como abordagem crítica e emancipatória, uma vez que se constitui como uma abordagem facilitadora da reflexão sobre os contextos e percursos nos quais os atores sociais se encontram envolvidos. Através desta abordagem, esclarece-se a situação vivenciada e, não menos importante, analisam-se os processos em que se está envolvido, numa perspetiva reflexiva e crítica orientada para a mobilização para a ação transformadora.
Este primeiro contacto com a Cartografia Social desencadeou um interesse sobre os seus fundamentos e, nessa sequência, conduziu ao aprofundamento e à (re)leitura de autores como Arturo Escobar (2008), Carlos Walter Porto-Gonçalves (2006) e Boaventura de Sousa Santos (2009), entre outros. Mas, o impacto da aprendizagem iniciada em Coimbra estendeu-se à nossa prática como professores, dinamizadores de atividades na comunidade educativa e investigadores.
Na atividade docente, no final de uma Unidade Curricular de Metodologia de Investigação do Mestrado de Educação Social – Educação e Intervenção ao Longo da Vida, foi solicitado aos/às estudantes que, em pequenos grupos, desenhassem o mapa do seu percurso de aprendizagem no âmbito da unidade curricular em questão. Neste processo, teriam de representar os obstáculos que encontraram e as estratégias que implementaram para lhes fazer face. Simultaneamente deveriam também identificar as realizações e conquistas dos seus percursos de aprendizagem. A atividade conduziu a resultados muito interessantes: permitiu identificar e partilhar as aprendizagens mais significativas para os estudantes e perceber a valorização de aspetos relacionais identificados como um suporte importante para manter a motivação para a aprendizagem. A aplicação desta abordagem e a análise dos dados que a partir dela foram recolhidos levou ao reconhecimento da importância, no âmbito da educação social, das metodologias de investigação participativas. Estes resultados decorreram da possibilidade dos/as estudantes poderem experienciar a atividade como atores e, posteriormente, como investigadores, através de um exercício em que foram convidados a analisar os dados recolhidos e a concluir a partir deles.
Do ponto de vista da integração da ED/ECG na atividade letiva, este exercício sustentou a decisão de ampliar, em tempo dedicado e também em aprofundamento, os conteúdos da UC dedicados à investigação crítica e às técnicas participativas de recolha de dados e da análise desses mesmos dados.
A dinamização de atividades na comunidade educativa foi também um contexto de aplicação da Cartografia Social, quando tivemos a oportunidade de realizar um workshop com o título: Caminhos para a Igualdade e Liberdade: Conversas e ferramentas para um IPB mais igual, diverso e inclusivo, a convite da Escola Superior de Gestão e Tecnologia do Instituto Politécnico de Bragança, no âmbito do Projeto Europeu STEP - STEM Research – Equality, Diversity and Inclusion. Nesta ocasião, a utilização da Cartografia Social permitiu refletir sobre e exercitar a horizontalidade das relações académicas, assim como perceber os desafios observados na comunidade e gizar objetivos a alcançar.
Para finalizar, como investigadores, a principal aprendizagem que salientamos decorre da própria experiência como atores sociais que experienciaram a tarefa de produzir Cartografias Sociais. Parece-nos muito pertinente a análise da representação cartográfica da forma como é entendido e interpretado o espaço e o tempo, como também reconhecemos a importância da dimensão colaborativa da produção da Cartografia Social, uma vez que pressupõe a partilha e a consensualização da ideia de “realidade” social a representar. Um outro aspeto que nos parece fundamental é a agência dos/as participantes na investigação, que se concretiza na sua liberdade de representar o seu contexto da forma como o percecionam, sem que as suas perceções sejam conduzidas pela interação com o investigador na administração de um instrumento de recolha de dados mais, ou menos, prescritivo.