Clube de leitura "distopia e desinformação"

ESE IPVC

Texto por Cristina Iglesias

Num mundo no qual as nossas vidas aceleram a uma velocidade superior àquela que as nossas mentes possam acompanhar intrinsecamente... Na sociedade do imediato, notificações, apps, plataformas digitais, notícias que nunca tocarão o papel, do “clickbait”, consumismo, narcisismo e sinistra manipulação servida nas nossas mãos, deveríamos poder parar, inspirar, desligar a “internet” do telemóvel e perguntarmo-nos: É este o caminho que devemos seguir na nossa persecução de um futuro sustentável para a Humanidade? 

Mas antes de responder a esta questão, comecemos pelo início. A biblioteca professor Luís Mourão, da ESE-IPVC, concebeu para o ano académico 2023-2024 um projeto de literacia digital e mediática chamado “Desconexão Digital no Ensino Superior”. Este projeto surge da necessidade de informar as e os estudantes sobre conceitos como o capitalismo da vigilância, aliado às nefastas consequências a nível psicológico e de desempenho académico, assim como das repercussões sociais da desinformação. Para tal, foram desenvolvidas formações para as e os estudantes, uma exposição de cartazes realizados por discentes finalistas da licenciatura em Artes Plásticas, um ciclo de cinema, e por último, mas não menos importante, um clube de leitura.

Este clube de leitura nasce do intuito de oferecer um espaço às e aos discentes da ESE-IPVC no qual pudessem refletir sobre temáticas como as redes sociais, os efeitos da “internet” na nossa sociedade, política ou filosofia; usando obras literárias como “Gosto, logo existo” de Isabel Meira, para tratar a temática das redes sociais e da desinformação; assim como as obras distópicas: 1984 (George Orwell) e Fahrenheit 451 (Ray Bradbury).

Na última sessão, foi precisamente a obra-prima de Ray Bradbury que se discutiu num ambiente informal, na qual participaram estudantes, docentes, funcionárias e funcionários da escola, assim como a técnica do GEED – Gabinete de Estudos para a Educação e Desenvolvimento, num círculo de camaradaria, sem estruturas verticais. Cada partícipe teve a oportunidade de ler, falar para serem ouvidos, ouvir para refletir, e empatizar com as palavras que estavam a ser partilhadas.

Os excertos escolhidos de Fahrenheit 451 foram principalmente os do monólogo do comandante Beatty, dado que esse texto é o perfeito paralelismo entre a sociedade representada na obra e a problemática enraizada do nosso pós-modernismo digital.

Desde a protossociedade da imagem, ao consumo de massas, houve um consenso sobre a importância da leitura para atingirmos o pensamento crítico. Sem ler as obras originais, apenas estamos a consumir resumos, procurar atalhos, sem enriquecer a nossa mente com a mensagem do autor ou da autora.

Por outro lado, a grande conclusão atingida durante a sessão foi a evidência do cansaço desta sociedade, maltratada pelas consequências do sistema capitalista. As condições de precariedade social, o isolamento fomentado pelo vício às redes sociais, tudo em conjunto produz uma alienação que nos impede de ter tempo de qualidade para desconectar e pensar com a lucidez necessária para perceber os grandes problemas sociais que nos rodeiam. O ritmo desenfreado a que cada pessoa é submetida bloqueia a sua capacidade de ver mais além dos seus próprios problemas, mesmo quando existem situações de tragédias humanitárias que acabam por saturar os telejornais e os “feeds” das redes sociais, mas que não tocam os nossos corações.

Portanto, se há uma manifesta evidência nesta sessão seria de que esta geração que se encontra a frequentar o Ensino Superior, não é uma geração perdida. Apenas uma que precisa de espaços para relembrar a importância de poder parar, desligar, partilhar, e sobretudo, de calma para refletir.